José Lourenço da Silva
(Capitão Zuzinha)
Na marcha-frevo, escrita por Zuzinha, à introdução instrumental em 16 compassos seguia-se, no mesmo andamento, uma segunda parte, também instrumental, chamada de resposta, escrita normalmente para as palhetas, caracterizando um diálogo perguntas e respostas, entre metais (trompetes, trombones e tubas) e palhetas (clarinetes, requinta e saxofones), se constituindo como uma das características básicas desse gênero de frevo, o qual se tornou posteriormente conhecido como frevo-de-rua.
O jornalista e escritor Mário Mello classificou essa composição de Zuzinha como sendo o “Divisor de Águas”.
Nelson Ferreira, incorporando tal denominação, mais tarde, batizou-a em disco com o mesmo título, “Divisor de Águas”, integrando-a ao repertório do disco Carnaval do Recife Antigo, LP 10021, matrizes MR 050 e MR 051.
Produzido pela Fábrica Rozenblit com o selo Mocambo, teve a capa ilustrada por Lula Cardozo Ayres e, com a orquestra de Nelson Ferreira executando os principais frevos das agremiações carnavalescas em atividade no início do século XX no Recife.
Em 1999, a gravação foi remasterizada e relançada pela própria Rozenblit através do selo Polydisc, na série 20 Super Sucessos – História do Carnaval, no CD 470.388 – Velhos Carnavais, faixa 04, matriz 68326916.
A referência ao título dado por Mário Mello e, “oficiosamente homologado” por Nelson Ferreira foi uma alusão clara a definição de estrutura e estilo do que se convencionou a chamar de frevo.
Para melhor elucidar essa definição e classificação, é importante observar o depoimento do próprio Mário Mello que, além de entusiasta era conhecedor do assunto.
No artigo intitulado Origem e Significado do Frevo, publicado no Anuário do Carnaval Pernambucano, Recife – 1938.:
“É o frevo genuinamente pernambucano. Assisti-lhe ao nascimento. Conheço-o, portanto, muito de perto. Antes do frevo era o Zé-pereira a música popularizada do carnaval de Pernambuco...
...Ao Zé-pereira substituiu o frevo. É, como disse, de meus dias.
Começou a gatinhar no começo do século [XX], sem nome, como enjeitado, até que recebeu o batismo poucos anos depois, quando já estava taludinho. Foi ao tempo das polcas. Não havia compositor que não escrevesse polca nem menina de salão que a não dançasse. Se esse pessoal que hoje [1938] dança fox-trote houvesse conhecido a polca!...
Havia as saltitantes e as de ritmo não muito violento. Às últimas davam o nome de marcha-polca ou de polca-marcha. Era como uma marcha mais acelerada, ou uma polca menos violenta.
E os clubes pedestres começaram a adotar a marcha-polca e esta foi-se tornando independente. Por esse tempo, vindo do Paudalho [município da zona da mata pernambucana], onde era mestre da banda de música, estava aqui como regente da banda do 40º Batalhão de Infantaria aquartelado nas Cinco Pontas [Forte das
Cinco Pontas] o Zuzinha, hoje capitão José Lourenço da Silva, ensaiador da Brigada Militar do Estado. Foi ele quem estabeleceu a linha divisória entre o que depois passou a se chamar (sic.) frevo e a marcha-polca, com uma composição que fez época e pertencia ao repertório da minha gaitinha dos tempos acadêmicos. Julgava que essa composição, ainda hoje nítida na minha memória,
tivesse sido de autoria de Benedito Silva, outro afamado compositor. Mas uma vez, em conversa com o Zuzinha, solfejando essa música como o mais antigo frevo, confessou-me sua autoria. Proclamo, assim, o Zuzinha pai do frevo.
FONTE:
Saldanha, Leonardo Vilaça. Frevendo no Recife: A Música Popular Urbana do Recife e sua consolidação através do Rádio / Leonardo Vilaça Saldanha. – Campinas, SP: [s.n.], 2008.
VAMOS OUVIR O PRIMEIRO FREVO DE RUA DA HISTÓRIA
"Divisor de águas" (Capitão Zuzinha)
Banda da PM de Pernambuco
Gravado no disco: O TEMA É FREVO - vol. 2
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