quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Frevo: Inovações integrando capital e interior.


           Jacques F. Vasconcelos
(médico e compositor)

Concentrado no centro do Recife, dentre eles os embrionários bairros de São José e Santo Antônio, o frevo, “ritmo fervente” do estado, disseminou-se pelo Sítio Histórico de Olinda, Zona da mata como Nazaré da Mata, Timbaúba, além do agreste e sertão como Vitória de Santo Antão, Bezerros, Buíque, Pesqueira e Triunfo, grandes polos do carnaval pernambucano.
            Entretanto essa história é pouco difundida, principalmente no que se refere a produção, ato de se compor o frevo. Diante disso, quando se pensa em frevo só lembramos de Recife e Olinda. Contudo, no interior do estado de Pernambuco há muita história e frevo, a exemplo do bezerrense Zito Farias (87 anos), autodidata que compôs seu 1° frevo “Entrei Fervendo” em 1949 aos 17 anos. Zito Farias é hoje, talvez, o compositor vivo mais antigo do gênero musical, apesar de pouco reconhecido até mesmo pela literatura e história do frevo. Ao todo, em sua memória, criou cerca de 40 frevos, mas boa parte dessas obras perderam-se ou destruíram-se pelo tempo e conservação, restando cerca de 20 frevos restaurados por um jovem amigo desta mesma cidade, que através da digitalização das obras de Zito, tenta manter esta obra ainda mais viva através da apresentação ao público através de sua orquestra “OFICINA AGRESTE FREVO”, projeto musical criado por Jacques Vasconcelos, amigo e profundo admirador do Sr. Zito. Além de frevos, Zito Farias também compôs polcas, chorinhos, música clássica, além do hino da cidade de Bezerros, com co-autoria de Antônio Mendonça (Bezerrense), e o hino do centenário, música em homenagem a sua cidade natal.
Na cidade de Bezerros e seu “Carnaval do Papangu” (3º destino mais procurado e visitado durante o carnaval de Pernambuco e que devido a essa força cultural ganhou destaque internacional) nasceu, no ano de 2013, exatamente um ano após o frevo ter recebido o título de patrimônio cultural imaterial da humanidade, concedido pela UNESCO, a “OFICINA AGRESTE FREVO (OAF)”. Trata-se de uma orquestra composta por músicos da própria cidade e com proposta inovadora para este gênero musical Pernambucano ao apresentar frevos tradicionais, modernos, autorais e de outros compositores locais e da região ainda desconhecidos. A Oficina Agreste Frevo tem como idealizador e regente da orquestra, o músico e médico da cidade de Bezerros, Jacques F. Vasconcelos.
Neste ano de 2019 a orquestra busca oportunidade para apresentar-se durante o carnaval fora de sua cidade, pela primeira vez; com repertório de frevos novos em paralelo com frevos já consagrados, para tanto, estão em articulação para realizar negociações e apoio da FUNDARPE e do PAÇO DO FREVO (Maior centro de estudos, museu e difusão da história e prática de música e dança em relação ao frevo).
          “OAF” é um projeto musical que tem por objetivo revelar novos talentos e compositores do interior, além de contribuir com o acervo de arranjos de frevo no estado de Pernambuco. Na execução da proposta o repertório é mesclado por composições consagradas e desconhecidas, como frevos de Zito Farias, além de recentes produções autorais da Oficina Agreste Frevo – OAF que buscou homenagear  nomes de artistas representantes do agreste pernambucano em diversas áreas culturais, a exemplo do artesanato, artes plásticas e xilogravura/literatura de cordel pelos nomes de Mestre Vitalino e filho, Severino Vitalino, em “Vitalino: Moldando O Frevo’; Lula Vassoureiro, em “Vassoureiro No Frevo”; Roberval Lima, em “Roberval: Desenhando O Frevo” e J.Borges, em ‘J. Borges No Passo’. Entre os homenageados com destaque na música, encontra-se a maior influência para este projeto em nome de Zito Farias, em “Talentozito” e Mozart Vieira, em “Mozart Do Agreste”.
Com um repertório que mescla o tradicional e o moderno em canções consagradas e novas produções, pretendem equilibrar as apresentações para proporcionar ao público em geral o acesso às novidades e incorporações destas obras paulatinamente ao contexto histórico atual e futuro do frevo. Diante da difusão deste projeto, presentes e futuras gerações de compositores podem ser estimuladas para ampliar suas produções de novas canções no que se refere ao frevo, para que suas músicas sejam executadas por esta orquestra que tem como ideologia promover o interesse, difusão e aumento do acervo das canções de frevo para a história do frevo. Propõe-se ainda oportunizar ao público o conhecimento dos compositores locais durante as apresentações, prestigiando-os diante de sua importância para a cultura regional e nacional.
Em 2018 a OAF comemorou 5 anos de existência e hoje, possui entre seus integrantes 16 músicos, grande parte componentes da centenária “Sociedade Banda de Música Cônego Alexandre Cavalcante (SBMCAC)”, de Bezerros; incluindo 2 cantores.

OFICINA AGRESTE FREVO homenageia artistas do agreste em seus frevos autorais. Abaixo o registro dos artistas homenageados ou familiares, recebendo arquivos de seus frevos.


1. Vassoureiro no frevo. Frevo de Jacques Vasconcelos/Zito Farias e arranjo de Marcos FM, em homenagem a Amaro Arnaldo do Nascimento, popularmente conhecido como Lula Vassoureiro. Bezerrense, 74 anos, patrimônio cultural vivo de Pernambuco com diversos trabalhos em artes plásticas que figuram os “Papangus” e outros personagens da cultura popular que ganham forma em máscaras e artigos diversos. Lula Vassoureiro possui trabalhos espalhados no Brasil e mundo. Foi homenageado no carnaval dos papangus em 2014.





2. J. Borges no passo. Frevo de Jacques Vasconcelos/Zito Farias e arranjo de Marcos FM, em homenagem a José Francisco Borges, mais conhecido como J. Borges. Bezerrense, 83 anos, patrimônio cultural vivo de Pernambuco, mestre na arte de xilogravura e literatura de cordel, com trabalhos que representam desde o cotidiano da população nordestina até o imaginário popular além da emoção pessoal. J. Borges é reconhecido internacionalmente por sua importância e contribuição à cultura popular. Foi homenageado no carnaval dos papangus em 2007 e também foi o grande homenageado da escola de samba Acadêmicos da Rocinha, durante o Carnaval 2018 no Rio de Janeiro (RJ).
  


3. Talentozito. Frevo de Jacques Vasconcelos e arranjo de Marcos FM em homenagem a Zito Farias: Bezerrense, 87 anos, microempresário aposentado, músico autodidata e compositor de diversos gêneros musicais, entre eles o frevo e ex-integrante da SBMCAC. Zito Farias é provavelmente o mais antigo compositor de frevo vivo do estado de Pernambuco. Foi homenageado no carnaval dos papangus em 1992 e 2006.

                                           

4. ROBERVAL: DESENHANDO O FREVO. Frevo de Jacques Vasconcelos e arranjo de Marcos FM em homenagem a Roberval Lima: Bezerrense, 55 anos, artista plástico, diretor de cultura da cidade de Bezerros, idealizador responsável pela organização e confecção de adereços que enfeitam a cidade durante eventos festivos, incluindo o carnaval. Roberval Lima é reconhecido por sua imensa contribuição cultural. Acompanha e ajuda a divulgar o grupo bezerrense de dança popular “Papanguarte” em festivais de dança nacional desde sua criação na década de 90; tem trabalhos divulgados no Brasil e no mundo. Foi homenageado no carnaval dos papangus em 2016.  



5. Mozart do agreste. Frevo de Jacques Vasconcelos e arranjo de Marcos FM em homenagem a Mozart Vieira: nascido em Belo Jardim, 56 anos, matemático, professor, músico, maestro e idealizador da fundação música e vida, com sede em São Caetano, que acolhe crianças, adolescentes e adultos com iniciação e profissionalização musical instrumental e canto erudito e popular. Fez parte da SBMCAC na década de 80. Mozart Vieira possui trabalhos sociais e artísticos reconhecidos no Brasil e no exterior.
  

                                                                                                                          
6. Vitalino: Moldando o frevo. Frevo de Jacques Vasconcelos e arranjo de Marcos FM em homenagem a Mestre Vitalino e Severino Vitalino (filho de Mestre Vitalino ou Vitalino Pereira dos Santos): Severino possui 78 anos, nasceu em Sítio Campos-PE, é artesão mestre das artes de figuração em barro conhecidos pelo mundo, herdou de seu pai, o Mestre Vitalino, o dom da arte em barro.

Acima, foto de Manoel Vitalino, filho de Severino Vitalino. O arranjo seria entregue ao seu pai, mas durante o período não foi possível devido as condições de saúde de Severino que se encontra em internamento hospitalar desde outubro de 2018. (mestre Vitalino faleceu em 07/01/19 durante a elaboração desse artigo)

                        Abaixo, segue alguns registros de suas apresentações:


                        (Centro de Artesanato de Pernambuco – Bezerros-PE / 2015) (Antiga formação)   
                
            
                                                          (Praça Duque de Caxias – Bezerros-PE / 2015)(Antiga formação)                                                                             

           

                   

                                                                           Programa sobretudo, Tv jornal Caruaru-PE / 2018

             
                                                                        (Carnaval do Papangu, QG do frevo – Bezerros-PE) / 2018)

                

               
          Gravação de comercial e divulgação da OAF na Associação dos Músicos de Bezerros (AMUBE) -- Bezerros - PE / 2018