sexta-feira, 22 de junho de 2012

Século XVII "O Período Inicial" - Traduzido do livro: The History of Orchestration de Adam Carse

 

Capítulo III

Século XVII. O Período Inicial

Adam Carse
Tradução de Ricardo Mazzini Bordini


O último quartel do século XVII aproximadamente marca a conclusão do estágio inicial da história da orquestração. Àquela época a orquestra de cordas a quatro partes padrão sucedeu o agrupamento de instrumentos de cordas tanto em três como em cinco partes o que era até então a regra nas obras orquestrais dos compositores italianos, franceses e alemães. Alessandro Scarlatti (1659-1725) e Henry Purcell (1659-1695) são os mais proeminentes daqueles cujas partituras exemplificam o axioma de que as cordas são mais bem manejadas em quatro partes, nomeadamente, 1os. Violinos, 2os. Violinos, Violinos Tenores, Violoncelos, e Contrabaixos, estes dois últimos tocando o baixo da harmonia em oitavas como instrumentos de sonoridade de oito e dezesseis pés.
No final do século a orquestra de cordas estava finalmente determinada na constituição, e a sonoridade de cordas produzida por instrumentos inteiramente do tipo violino estava firmemente estabelecida como a sonoridade fundamental da orquestra.
Um exame das partituras deixadas por compositores cujas vidas estenderam-se de cerca do final do século XVI até perto do final do século XVII demonstram o estado e o crescimento da arte orquestral durante seu primeiro ou inicial período. Cronologicamente isto conduzirá a história quase até o tempo dos dois grandes compositores da primeira metade do século XVIII, Bach e Handel, que com Rameau e Gluck por sua vez tocam ou sobrepõem-se à obra dos pais da orquestração moderna, Haydn e Mozart. Mas um período intermediário, o qual pode convenientemente ser rotulado Scarlatti-Purcell, deve ser colocado entre o período inicial e o de Bach-Handel.
Deve ser entendido que esta divisão em períodos é feita por motivo de método, clareza, e como um auxílio para a memória, e está baseada na obra destes compositores e seus contemporâneos mais do que na duração real de suas vidas.
O período inicial abarca a obra de muitos compositores italianos proeminentes antes do tempo de Scarlatti, nomeadamente Cavalieri, Peri, Monteverde, Gagliano, Landi, os dois Rossi, Cavalli, Cesti, Legrenzi, Carissimi, Stradella, e muitos outros; Lulli, o famoso compositor de Ballet e Ópera Franceses, e seus sucessores imediatos; alemães contemporâneos tais como Schütz, Albert, Tunder, e Hammerschmidt. Em suas vidas e por suas obras prédatadando Scarlatti e Purcell, estes compositores escreveram quase invariavelmente para cordas tanto a cinco como a três partes, com um uso não sistemático e irregular de instrumentos das madeiras conforme estiveram à sua disposição em diferentes lugares e em diferentes ocasiões.
Para o músico atual treinado no sistema educacional de escrita a quatro partes, o agrupamento de vozes ou instrumentos em quatro partes parece natural e quase inevitável. Esta convenção, entretanto, não existia para o compositor orquestral primevo, para quem era igualmente natural escrever em cinco ou em três partes. Ambos os sistemas eram adotados por praticamente todos os compositores deste período, o grupo de cinco partes para movimentos introdutórios, Sinfonie, Ritornelli, Danças, Marchas, etc., também para partes de coro duplo, e o grupo de três partes às vezes para obras inteiras, e geralmente para acompanhamento de solos vocais quando nada além de uma parte de baixo-figurado era provida; também para muitos Ritornelli introdutórios, intermediários e conclusivos. “Sinfonia a 5” é um título freqüente para aberturas puramente instrumentais as quais ocorriam em quase todas as obras até o advento da “ouverture” francesa.
Os instrumentos requeridos não eram geralmente especificados com clareza nas partituras mais antigas. Instruções escritas às vezes declaravam que a música era para ser tocada por “todos os instrumentos”. Os compositores aparentemente contentavam-se em escrever tantas partes, e deixavam ao acaso, costume, circunstâncias variadas, ou ao julgamento de outros a decisão de como as partes deveriam ser distribuídas entre os instrumentos disponíveis. A única orientação fornecida é a clave e a extensão de cada parte, as quais poderiam naturalmente ser a primeira consideração ao distribuir as partes já escritas aos instrumentos de vários tamanhos e afinação. Praetorius, na sua Syntagma Musicum (1615-20), dá alguns detalhes de como este processo de ajustamento de instrumentos às partes era feito. Ele escreve, que se uma parte estava escrita na clave de sol, ou com a clave de dó na segunda linha, aquela parte poderia ser dada para violinos Discant ou cornetti tocar. Da mesma maneira para instrumentos Tenor ou Baixo seriam dadas partes com claves apropriadas, em resumo, qualquer parte que fosse adequada à sua extensão. Os compositores eram claramente não muito preocupados com o equilíbrio ou com o timbre. Os efeitos de combinações específicas de colorido instrumental dificilmente entrariam em seus cálculos quando uma parte fosse passível de ser tocada por instrumentos com tal diferença de qualidade de timbre e intensidade como violinos ou cornetti, violas tenor, violinos, ou trombones, violas baixo, fagotes, ou trombones baixo. Esta aparente indiferença com o efeito instrumental, entretanto, não é tão notável quando é lembrado que sob as condições prevalecentes no século XVII, o compositor como regra era também o regente, e poderia assim preparar a execução de uma obra ele próprio, destinando as partes e supervisionando o resultado pessoalmente.
Partituras posteriores sugerem que uma orquestra de cordas era requerida pela aparição ocasional das palavras violini ou violons, e umas poucas dão especificações exatas dos instrumentos. Disto pode-se deduzir que a disposição mais comum da orquestra de cordas a cinco partes era como segue: 1os. violinos, 2os. violinos, 1os. tenores, 2os. tenores, e baixos. A clave de sol, tanto na primeira quanto na segunda linha do pentagrama era sem dúvida usada para parte de violino agudo, mas as claves de dó de alto e tenor não fazem uma distinção clara entre violas e violinos de registro de tenor.
A orquestra de cordas a três partes parece ser invariavelmente para dois instrumentos agudos e baixos; claves, extensões, e instruções ocasionais indicam que violinos eram universalmente preferidos para as duas partes superiores. O baixo-contínuo é, como regra, a única parte de baixo fornecida nas partituras. Quando uma parte separada de baixo de instrumentos de cordas é escrita, os termos violone (violino grande) ou basses de violons são às vezes vinculados, mas não é de forma alguma claro se o instrumento de sonoridade de oito ou o de dezesseis pés era pretendido, ou se ambos eram usados juntos1. A palavra violoncello não ocorre até o final do século, tempo em que as violas* estavam evidentemente banidas da orquestra exceto para partes solo ocasionais.
Mais tarde no século XVII os poucos primeiros de uma longa linha de violinistas-compositores práticos, começando com Vitali, Corelli, e Torelli, adotaram o mesmo método de escrever duas partes de violino e uma de baixo. À eles e seus sucessores é devido o desenvolvimento da verdadeira técnica do violino que pelo final do século tinha dado um estilo distintivo para a música escrita para instrumentos de cordas, e tinha finalmente individualizado as vagas e ambíguas partes que muitos dos primeiros compositores operáticos imparcialmente distribuíam entre instrumentos de capacidades e timbres totalmente diferentes. Massas de Sonatas para dois violinos e um baixo-figurado foram despejadas daquele tempo em diante, e um manejo similar da orquestra de cordas em três partes permaneceu uma forte influência através do século XVIII à despeito da quarta parte disponível para instrumentos tenor. Muitas das obras de Handel, Haydn, e Mozart, e seus contemporâneos é realmente a três partes, as violas usualmente seguindo o curso da parte do baixo uma oitava acima.

Referências Bibliográficas

Carse, Adam. The History of Orchestration. New York: Dover, 1964. Pp. 32-5 [a 1a . edição é de 1925].
Tradução de Ricardo Mazzini Bordini (bordini@ufba.br)

______________________________
1 Warnecke no Der Kontrabass, Hamburg, 1909, declara que os contrabaixos foram usados pela primeira vez na ópera em Nápoles em 1700, e na mesma época em Viena.
* Trata-se de instrumentos tipo Viola da Braccio e Viola da Gamba. Não confundir com as Violas atuais [NT].  

Concertino para clarinete e orquestra

Assistam essa maravilhosa música: "Concertino para clarinete e orquestra" (A saga musical da tapioca) prova de amizade do compositor pernambucano Inaldo Lima Moreira ao clarinetista David Barbosa Campos (Tapioca), acompanhado pela Orquestra Sinfônica Jovem do Conservatório Pernambucano de Música. Regente: José Renato



O fera Davi Barbosa Campos, que garantiu o 1º lugar geral do Vestibular 2011 da UFPE, falou da emoção de estar entre os primeiros lugares.

Assistam também:



Portal de Educação Musical do Colégio Dom Pedro II

Oi gente visitem o Portal de Educação Musical do Colégio Dom Pedro II. Lá vocês encontrarão muitos materiais voltados para a Educação Musical no ensino regular, além de poder baixar as apostilas do curso com dezenas de atividades. Espero que gostem!
 
http://www.portaledumusicalcp2.mus.br/

Banco de Partituras da Secult/CE disponibiliza 400 músicas para download gratuito

Banco de Partituras da Secult/CE disponibiliza 400 músicas para download gratuito

— registrado em:
O acervo reúne composições de ícones da música popular brasileira, como Fagner, Ary Barroso, Luiz Gonzaga, Benito de Paula, Adoniran Barbosa, Chico Buarque e Tom Jobim, também do poeta Patativa do Assaré, do argentino Carlos Gardel e de clássicos como Tchaikovsky
A Secretaria da Cultura do Estado do Ceará mantem na internet um acervo de cerca de 400 partituras para download gratuito. Além de baixar a partitura, é possível ouvir a música escrita na pauta. As peças são direcionadas as bandas de músicas, com arranjos para flauta, clarinetes, saxofones (alto, tenor e barítono), trompete, trompa, trombone, bombardino, tuba e percussão.
O acervo é administrado pelo Sistema Estadual de Bandas de Música do Ceará (Sebam/CE), que promove a articulação e a troca de experiência entre as bandas de música existentes no Estado. Para acessar o banco, basta visitar o endereço www.secult.ce.gov.br/bancodepartituras. As partituras também estão disponíveis no Museu da Imagem e do Som do Ceará (Mis/CE).
O banco disponibiliza um repertório básico dos principais estilos e ritmos da música brasileira, com xotes, baiões, marcha, valsas, sambas, frevo e etc, e abrangendo um vasto leque de compositores. O acervo também atende à demanda das bandas de músicas por um repertório temático, com músicas típicas dos festejos de Natal, Carnaval, Festa Junina, Dia das Crianças, Festa Pátria, entre outros do calendário temático, que começa em janeiro, com os reizados e termina em dezembro com o Natal.
Também é possível encontrar músicas de ícones da música popular brasileira, como Fagner, Ary Barroso, Luiz Gonzaga, Benito de Paula, Adoniran Barbosa, Chico Buarque, Tom Jobim, e até do poeta cearense Patativa do Assaré, do argentino Carlos Gardel e de autores clássicos como Tchaikovsky.
Atualização - mensalmente são colocadas, pelo menos, quatro novas partituras no banco. Em setembro deste ano, foram 93 novas peças, entre marchas e dobrados, em comemoração ao dia 7 de setembro, servindo de estímulo às bandas para execução de novos repertórios nos festejos de independência. Anualmente, a Secretaria da Cultura lança o prêmio Alberto Nepomuceno de Composição para Bandas de Música, premiando quatro composições inéditas arranjadas e partituradas nos moldes do Banco de Partituras, que também são disponibilizadas no banco e distribuídas entre as bandas de música do estado.
Os autores das músicas premiadas recebem ainda o valor de R$10mil em dinheiro, cada. A iniciativa, além de ampliar o acervo, fomenta e divulga o trabalho dos músicos compositores do Ceará. Já estão disponíveis no site as músicas dos ganhadores de 2006 à 2008. Em breve, serão incluídos os trabalhos de 2009, em fase de editoração, e os de 2010, em fase de análise pela comissão julgadora do prêmio.

http://www.secult.ce.gov.br/noticias/banco-de-partituras-da-secult-ce-disponibiliza-400

História da Música Brasileira – Episódio 1 de 10: Introdução e primeiros tempos da música no Brasil


História da Música Brasileira – Episódio 1 de 10: Introdução e primeiros tempos da música no Brasil

Toda segunda-feira apresentaremos um episódio da série História da Música Brasileira, com um  link para baixar o vídeo do episódio, incentivando a divulgação desse trabalho em universidades, conservatórios e amantes da música. Contamos com o seu apoio!
HISTÓRIA DA MÚSICA BRASILEIRA
Paulo Castagna
História da Música Brasileira foi um projeto idealizado por Ricardo Kanji e Paulo Castagna em 1997, que se concretizou em 1998, com financiamento da Telebrás, direção de TV de Reinaldo Volpato e administração do CEPEC – Centro de Produções Editoriais e Culturais, dirigido por Ricardo Maranhão. As gravações sonoras foram realizadas pela EGTA Produções, dirigida por Everton Gloeden e Tadeu do Amaral e a filmagem foi feita no Anfiteatro Camargo Guarnieri da Universidade de São Paulo e no Teatro Cultura Artística de São Paulo, infelizmente destruído no incêndio de 2008. O projeto contou com a colaboração de músicos experientes de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e mesmo da Argentina.
O trabalho foi iniciado com a elaboração de textos e seleção de repertório por Paulo Castagna, que incluiu muitas obras inéditas e mesmo editadas especialmente para o projeto. Paralelamente, Ricardo Kanji reuniu e ensaiou os integrantes do Vox Brasiliensis, o grupo que executou a grande maioria das obras do projeto e que foi especialmente criado para isso. Os episódios 8, 9 e 10 também contaram com a participação da Orquestra Sinfonia Cultura, da Fundação Padre Anchieta, dirigida por Lutero Rodrigues. A partir dos roteiros elaborados por Vitor Navas, foram feitas as gravações, dirigidas por Ricardo Kanji, que também apresenta o documentário.
Foram lançados, durante o projeto, 2 cds e 10 vídeos de cerca de 28 minutos cada um, embora tenham sido inicialmente previstos 6 cds e 15 vídeos (por isso o quadro informativo no início de cada programa indica um total de 15 episódios). Algumas obras foram gravadas apenas em áudio, enquanto outras foram filmadas e integraram os vídeos. Todo esse material foi divulgado entre fins de 1998 e princípios de 1999: os 2 cds, com o título de “História da música brasileira: período colonial”, com a Orquestra e Coro Vox Brasiliensis, sob regência de Ricardo Kanji e pesquisa musicológica de Paulo Castagna foram lançados em São Paulo pelo selo Eldorado (CD 946137), enquanto a série de 10 vídeos foi transmitida várias vezes pela TV Cultura de São Paulo a partir daquela época. Em fins de 1999 a extinta editora Apel lançou em São Paulo os 10 vídeos em VHS (hoje esgotados) e a gravadora K617 lançou na França uma seleção dos 2 cds originais no cd “Música Sacra do Brasil: São Paulo / Minas Gerais / Rio de Janeiro” (Chœur et orchestre Vox Brasiliensis; direction Ricardo Kanji), que se tornou o primeiro cd do projeto Les Chemins du Baroque referente ao Brasil (CD K617096), iniciativa que divulgou dezenas de cds com música antiga composta nas Américas.
O projeto surgiu a partir de várias necessidades, entre elas a gravação de obras inéditas, a divulgação da música antiga brasileira, na época bastante desconhecida, e a geração de um material que proporcionasse uma compreensão mais ampla do fenômeno musical no Brasil antigo e que pudesse ser usado em escolas, universidades e mesmo na televisão. A História da Música Brasileira baseou-se em muitos esforços musicológicos anteriores e acabou estimulando vários outros projetos relacionados à música antiga composta no Brasil, entre eles iniciativas de organização e catalogação de acervos de manuscritos, projetos de edição e gravação musical, programas de rádio, publicações especializadas e vários outros. Apesar da limitação de seus recursos e de sua defasagem em relação às possibilidades técnicas atuais, o material é, ainda hoje, utilizado em aulas, cursos e palestras sobre música antiga brasileira em todo o mundo, tendo se tornado uma referência na área e um rápido meio de contato com a diversidade musical brasileira anterior ao século XX.
Os temas dos 10 programas são os seguintes:
1. Introdução e primeiros tempos da música no Brasil
2. A música setecentista no Brasil
3. A música no período áureo de Minas Gerais
4. Ouro, diamantes e música em Minas.
5. Padre José Maurício Nunes Garcia: um brasileiro nos ouvidos da Corte
6. A música da Independência.
7. Saraus, danças e intimidades: A música no Brasil no século XIX
8. Carlos Gomes: o emblema da ópera no Brasil
9. Romantismo: um Brasil para poucos
10. Romantismo e patriotismo: afinal, somos brasileiros?

maiores informações:

quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Orquestra Ontem e Hoje (Samuel Adler)


A Orquestra Ontem e Hoje

Samuel Adler
Trad. Marcos F.M.

        Aristóteles, em seu famoso discurso “Na música”, disse: “É difícil se não impossivel, para aqueles que não são performers serem bons juízes da performance dos outros.” Ele, é claro, estava se referindo a performance solo em instrumentos ou cantando. Contudo, o mesmo pode ser dito daquele que deve julgar o valor, competência, e eficácia de uma peça de música orquestral.
A experiência prática em uma área específica das artes musicais faz um compositor, maestro, professor, artista, estudante ou um profissional melhor nesse aspecto particular da música. Visto que tantos músicos lidam com o grande instrumento que chamamos de orquestra, é mais importante que o estudo de orquestração e instrumentação torne-se uma parte básica da educação de cada músico.
            A orquestra é certamente uma das mais nobres criações da civilização Ocidental. O estudo de suas complexidades iluminará muitas áreas importantes da música. No total, timbre e textura esclarecem a forma, bem como o conteúdo de uma série de composições. Além disso, específicas cores orquestrais e até mesmo o espaçamento dos acordes na textura orquestral dão uma “personalidade” especial para a música dos compositores do período Classico para o nosso próprio tempo. Em um livro mais informativo chamado A História da Orquestração, Adam Carse conclui com esse julgamento:

A orquestração tem sido muita coisa para muitos compositores. Tem sido um servidor do grande, um suporte para o medíocre, e uma capa para os fracos. No passado tiveram um santuário em suas vidas através da obra dos grandes imortais, no presente ofegam depois de esforços do progresso recente, O Estudo da Orquestração e seu futuro está tão completamente escondido porque estava no final do século XVI.*

            Dominar a técnica de orquestração nos leva a uma compreensão mais profunda da sensibilidade com que os grandes mestres da composição ter lidado com a orquestra sinfônica e como cada um fez este notável instrumento servir suas idéias musicais das formas mais claras e mais vívidas.
        A arte da orquestração é necessariamente altamente pessoal. O som orquestral de Wagner, por exemplo, é muito diferente do de Brahms, mesmo que esses dois compositores viveram no mesmo tempo.
A esse respeito, a orquestração é semelhante à harmonia, melodia, ou qualquer outro parâmetro da música. É, contudo imprescindível que se adquira as capacidades básicas da arte, a fim de torná-los pessoal num momento posterior. O ouvido será o fator decisivo na escolha dos instrumentos bem como combinações dos instrumentos. É por essa razão que iremos imediatamente nos concentrar no desenvolvimento do ouvido tentando torná-lo capaz de ouvir e distinguir cores.
        É o objetivo desse livro é familiarizar o leitor com o som distinto, particular que cada instrumento faz em solo e em combinação com outros instrumentos, bem como as técnicas usadas para produzir estes sons.Assim, quando uma nota de uma cor especial é ouvida no ouvido interno (ou mente), será possível escrever na partitura para realização na performance. Walter Piston colocou isso de forma suscinta: “Você tem que ouvir o que você colocar na página.” Vamos chamar isso de “ouvir mentalmente.”
        Comparado com o desenvolvimento de outras áreas na disciplina de música, orquestração, tal como a conhecemos, é uma retardatária. É bem verdade que os instrumentos têm sido usados desde os primórdios da história, mas eles foram empregados em sua maior parte para acompanhar vozes ou improvisar durante ocasiões festivas. Além disso, durante a Idade Média e da Renascença, o compositor raramente, ou nunca, especificava o instrumentos exatos para realizar as várias partes, designando curtamente como “soprano, contralto, tenor ou baixo” ou uma cor (timbre) de corda, sopro, metal ou familía das teclas. No prefácio de sua ópera Combattimento (1624) Monteverdi escreveu: "Um humor uniforme básico em uma peça musical postula uma combinação imutável de instrumentos durante todo o tempo." Até mesmo nos últimos anos da década de 1740, Leopold Mozart esceveu no prefácio de uma de suas serenatas que “se o músico que toca trombone alto for inadequado, deve ser solicitado a um violista para executar a parte de trombone na viola.” Mas, em meados do século XVIII, esta era uma anomalia e não a norma.
        Desde o início de 1600, a orquestra como a conhecemos começou seu desenvolvimento bastante lento. Aprendemos com escritores como Francis Bacon que, em meados do século XVII na Inglaterra, havia ainda dois tipos de consorts: musica fracta, o quebrado ou consort heterogêneo e musica sociata, o inteiro ou consort homogêneo.
            Contudo, orquestras foram surgindo em muitas das cortes da Itália, França e Alemanha. Podemos dividir a história da orquestra em dois amplos períodos:
1) dos principios da orquestra até a morte de Bach e Handel por volta de 1750;
2) da Escola de Mannheim School, Haydn, e Mozart até o presente.
        Durante o primeiro período, houve uma ênfase na estabilização de toda a orquestra.O naipe das cordas foi o primeiro a ser explorado, pois a construção dos quatro instrumentos constituintes – violino, viola, violoncelo e o contrabaixo – foi aperfeiçoado até o final do século XVI. A instituição de concertos públicos no século XVIII foi o catalizador para a criação gradual de uma orquestra com múltiplas cordas. Os meios de comunicação de ópera e balé também foram consideravelmente auxiliados pelo avanço da técnica orquestral, bem como o interesse por cores muito específicas. Lully, já em 1686, usou uma orquestra de cordas mais duas flautas (ou flautas doce), dois oboés, dois fagotes, duas trompas, dois trompetes, e tímpanos. Novamente, deve-se dizer que essa orquestra não foi até agora universalmente aceita. Ao longo de sua vida, Bach experimentou todos os tipos de combinações orquestrais, especialmente como acompanhamento para suas cantatas. No caso dele, como assim foi geralmente verdade para os compositores daquele período, a disponibilidade de intérpretes em grande parte ditava a constituição de sua orquestra. Na época de Haydn e Mozart, a estabilização foi quase atingida, e foi aceita que uma orquestra como algo distinto de um grupo grande câmara, foi constituída de três diferentes naipes: as cordas (primeiros violinos, segundos violinos, violas, violoncelos, e contrabaixos), os sopros (duas flautas, dois oboés, duas clarinetas, e dois fagotes), e os metais (duas trompas, dois trompetes, e tímpanos). Ali a seção da percussão não esteve separada como ainda na orquestra sinfônica padrão, mas ajudava a existir na orquestra de ópera. Tais instrumentos como caixa-clara, bombo, triângulo, e pratos foram comumente encontrados nas partituras de ópera. Observe, entretanto, que os tímpanos foram classificados com os metais na orquestra clássica. A razão para isso era utilitária, uma vez que os tímpanos sempre tocavam juntos com os trompetes. Raramente há casos em que os dois são usados separadamente. Sempre houve confusão a respeito de porque os trompetes são colocados abaixo das trompas, até mesmo nas partituras orquestrais mais modernas, apesar de os trompetes costumam tocar em uma região mais aguda do que as trompas. A razão é histórica: as trompas foram usadas na orquestra antes dos trompetes, e os trompetes foram colocados próximo dos tímpanos desde que sua música foi geralmente associada.
            Desde o período clássico, houve um rápido crescimento e expansão da orquestra. Primeiro, os instrumentos auxiliaries tais como flautim, corne-inglês, clarineta-baixo e contrafagote ali foram adicionados aumentando a extensão do naipe dos sopros, e outros instrumentos foram levados para a orquestra sinfônica da ópera. (trombones, harpas, e a ampla bateria de percussão). Berlioz conduziu orquestras enormes para ocasiões específicas em que as seções dos sopros, metais e percussão foram mais que duplicadas e o naipe das cordas foi muito ampliado. Na época de Mahler e Stravinsky, a grande orquestra, tal como a conhecemos hoje, foi uma norma aceita. As cordas em vez de 6, 6, 4, 4, 2, foram 18, 16, 14, 12, 10 (os números, é claro, significa o número de músicos em cada uma das cinco seções das cordas). Nem foi incomum empregar seis flautas, cinco oboés, seis clarinetas, quatro fagotes, oito trompas, quatro trompetes, quatro trombones, duas tubas, duas harpas, piano, e um grupo de instrumentos de percussão que requerem quatro a cinco músicos.
            Não somente o tamanho da orquestra aumentou, mas a sua utilização tem crescido mais sofisticado. Quando não importa o instrumento que desempenha uma determinada parte, o compositor abdica assim da responsabilidade pela orquestração, e, pelo menos da perspectiva de hoje, ele ou ela não estão muito preocupados com problemas timbrísticos. Entretanto, como a orquestra transformou-se em um enorme aparato e cada nota, acorde, timbre, e nuance torna-se uma parte integral da composição, foi necessário para codificar a arte da orquestração para que pudesse ser ensinada. Alguns dos grandes orquestradores do século XIX sentiram-se compelidos a definir as suas idéias e percepções.
            Dois dos textos excepcionais de orquestração do século XIX são os de Berlioz (revisado por Richard Strauss) e o de Rimsky Korsakov. Ambos os tratados estão preocupados com as técnicas de cada instrumento separadamente e as várias combinações que tenham tido êxito nas próprias obras. Rimsky-Korsakov usou suas próprias obras apenas para ilustrar cada ponto, ele era, afinal, um grande orquestrador e um experimentador ousado que nos forneceu idéias e explicações que não teria sido possível se ele tivesse usado obras de outros compositores.
          Tem sido dito que Maurice Ravel foi convidado por sua editora para escrever um livro sobre orquestração. Ele respeitosamente negou-se a fazer, mas teria dito a seus amigos que se ele fosse escrever um volume incluiria tudo em sua própria música orquestral que, em sua visão teve uma orquestração mal feita. Visto que nós temos considerado Ravel um dos verdadeiros gigantes da orquestração, como muito interessante, teria sido ter um livro como esse, pois não se pode pensar da escrita orquestral de Ravel como fraco de qualquer maneira. Nesse sentido, é importante notar que gostos em orquestração mudam e muitos dos problemas empregados sobre essas mudanças serão discutidas nos capítulos 15, 16, e 17. Devemos estar cientes de que grandes músicos como Wagner, Mahler, Weingartner, Mengelberg, Toscanini, Beecham e outros, se encarregaram de "melhorar" sobre as orquestrações e sinfonias de Beethoven Schumann para atender as orquestras maiores e as sonoridades orquestrais que estavam na moda no final do século XIX e início do século XX. Também deve ser mencionado que Mozart re-orquestrou Messias de Handel, adicionando clarineta e trombones ao original a fim de satisfazer aos ouvidos do final do século XVIII nas audições. 
        A arte da orquestração hoje é mais sofisticada e intrincada. Também é altamente individual, dependendo muito do gosto e até mesmo o preconceito do compositor ou orquestrador. Percebendo isso, deve-se dominar as técnicas de escrita para cada instrumento e ouvir atentamente as várias combinações. Muito pode ser aprendido da redução de uma partitura para seu mínimo essencial de modo que possa ser executado no piano, ou de “ampliar” uma partitura a partir de uma parte de piano.  Esse tipo de atividade tem sido uma prática comum bem utilizada por cem anos e oferece lições inestimáveis sobre a clareza e coloração na orquestra. Tais orquestradores fabulosos como Ravel, Debussy, Stravinsky muitas vezes compuseram suas mais avançadas partituras orquestrais originalmente para piano e depois orquestraram-nas,  enquanto Webern e Berg cuidadosamente fazem arranjos para piano de grandes partituras orquestrais de Schoenberg e Mahler, a fim de torná-los mais fáceis de estudar. Atualmente, o compositor ou orquestrador é muitas vezes chamado para re-orquestrar certas obras para os nossos grandes estabelecimentos de educação musical. No decorrer desse livro, todas essas e outras possibilidades práticas serão discutidas. Espera-se que a organização desse texto facilite o cumprimento de qualquer tarefa em orquestração que possa surgir.
            Ao longo do livro, os instrumentos mais comumente utilizados na orquestra sinfónica moderna recebem a mais ampla exposição. Por outro lado, com o advento de tantos conjuntos Renascentistas e grupos heterogêneos e grandes de câmara, considerou-se importante incluir instrumentos peculiares a tais conjuntos, e descrever as técnicas e conceitos básicos associados a alguns desses instrumentos. Em um apêndice, mais referências são dadas no caso de mais informações serem desejadas sobre os instrumentos que serão discutidos sem profundidade. 

Referêcia bibliográfica

*Adam Carse, History of Orchestration (New York: Dover, 1964), p. 337.
ADLER, Samuel. The study of orchestration. 3rd ed. Trad. Marcos Ferreira Mendes (Marcos F.M.). New York: W.W. Norton & Company, Inc., 2002. p. 3-6. (marcostreminhao70@yahoo.com.br)


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ato de Criação - Um documentário sobre o processo composicional de Hermeto Pascoal

Ato de Criação


Para registrar o processo criativo de Hermeto Pascoal, o documentário entrou em estúdio com o instrumentista durante a gravação da trilha sonora de "Eu Vi o Mundo... Ele Começava no Recife", de Mário Carneiro. Durante dois dias, o músico compôs guiado por apenas um lema: a liberdade de criação.

FICHA TÉCNICA:
Gênero: Documentário
Diretor: Marília Alvim
Duração: 50 minutos
Ano de Lançamento: 2008
País de Origem: Brasil


1° Festival de Música Barroca do Recife

Festival de Música Barroca (de 03 a 06 de Julho de 2012). Concertos, tendo como cenário a belíssima Capela Dourada, com os grupos Ensemble Sonoro Oficio, Ensemble Vocal Gárgula e a cravista Luciana Câmara.
Obras de Antonio Vivaldi (1676-1741), Dietrich Buxtehude (1637-170...
7), François Couperin (1668-1733), Girolamo Frescobaldi (1583-1643) e Luis Álvares Pinto (1719-1789).
Imperdível!!!
Entrada franca, mediante senha retirada a partir das 8 hs. do dia de cada concerto, na entrada do Museu de Arte Sacra da Venerável Ordem Terceira de São Francisco do Recife. Rua da Imperador, s/n, Centro do Recife.
Direção artística: Maestro Sérgio Dias

 





sexta-feira, 15 de junho de 2012

Conservatório Pernambucano de Música - ASA BRANCA (TAKES 1 e 2 - AO VIVO) / Prof. Marcos F.M.

HOMENAGEM A LUIZ GONZAGA NO CONSERVATÓRIO PERNAMBUCANO DE MÚSICA
Audição de alunos - CPM - 13/06/12
Direção musical e regência: Prof. Marcos F.M.
Turma de arranjo 1 (Curso Técnico)
Música: Asa branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

Gravado ao vivo no Estúdio Cussy de Almeida no CPM


                                                 Take 1
                                                Take 2
Alunos (as) Participantes: Daniel Santana -- sax-barítono  Derivaldo de Santana -- sax-soprano  Laysa Feitosa -- voz  Lizandra Gonçalves -- voz   Luciana Carvalho -- voz  Participações especiais:  Dennis - sax-tenor  Prof. Breno Lira -- guitarra  Prof. Ebel Perrelli -- bateria  Prof. Jefferson Cupertino -- baixo elétrico  Prof. Júlio César -- acordeon  Prof. Maurício César -- piano  Prof. Passarinho -- percussão  Prof. Roberto Silva -- sax-alto  Agradecimento especial a Jailson (técnico de gravação do CPM) 

terça-feira, 12 de junho de 2012

 A Harmonia no Contexto da Música Popular – 
 Um Paralelo com a Harmonia Tradicional 

 

Paulo José de S. TinéProfessor da FASM
 
Introdução
O trabalho aqui proposto vem sendo realizado no Curso de Harmonia Popular da Faculdade Santa Marcelina, ministrado desde 1996. A intenção inicial foi oferecer aos alunos de música popular uma experiência tão rica quanto à dos estudantes de música erudita no tocante à condução das vozes. A única forma de se chegar a isso, dentro de uma estilística adaptada, foi utilizando-se técnicas de arranjo. Os resultados obtidos têm sido satisfatórios mesmo entre alunos mais experientes, pois o conteúdo é apresentado a partir de um ângulo por eles desconhecido.
O Tratado de Harmonia de Schoenberg traz conceitos que o diferencia dos demais tratados tradicionais, e estes mostraram-se úteis para a presente proposta: a ampliação da tonalidade gradualmente através do círculo das quintas; o uso sistemático de cada elemento (dominantes secundárias, acordes de sexta napolitana, acordes errantes) em todos os graus do campo harmônico; e a sugestão de um trabalho criativo do estudante por meio do qual ele não realiza apenas baixos cifrados, mas compõe cadências. Para subsidiar esta experiência, a obra mais indicada tem sido Arranjo, de Ian Guest, e isto porque os principais trabalhos sobre arranjo como o The Contemporary Arranger, de Don Sebesky, e o Sounds and Scores, de Henry Mancini, tratam mais de organologia e orquestração do que sobre técnicas de bloco. O Arranjo, de Ian Guest, é um dos poucos trabalhos no qual este assunto á tratado. No tocante a estes blocos, eles também se encontram sistematizados de outra maneira, e no contexto da música erudita, na obra Harmonia do Séc. XX, de Vicent Persichetti. Os trabalhos sobre o material para improvisação sempre incluem dados sobre harmonia, mesmo a partir de guias práticos, como é o caso de  Advancing Guitarist, de Mick Goodrick. 

Aplicação de Conceitos

Apresentarei alguns exemplos que demonstram como os tópicos de Schoenberg podem ser abordados no tocante à música popular. No capítulo VII – “Algumas Indicações para Obter Boas Sucessões” -, tem-se uma classificação de movimentos (eixos) harmônicos entre fortes (ou ascendentes) - 4as ascendentes, 3as descendentes, 2as ascendentes e descendentes (aqui distribuídos já em sua ordem hierarquica) - e fracos - 3as ascendentes e 4as descendentes. A justificação desta abordagem fundamenta-se no fato de que, no movimento de 4a ascendente, a fundamental de um acorde se converte em quinta (o terceiro harmônico da série harmônica) do segundo (Ex.: do-mi-sol  para fa-la-do). A indicação pretende levar o estudante a construir exercícios com predominância de movimentos fortes sobre fracos, pois os primeiros fortalecem mais a tonalidade que os segundos. Pode-se perceber que esta predominância ocorre na grande maioria dos standards  tonais. O exemplo 1  mostra os primeiros compassos de Autumn Leaves, de Joseph Kosma, um dos temas mais gravados pelos improvisadores, nos quais só ocorrem eixos de 4a ascendente. Ex.1:

A partir desta indicação, pode-se oferecer um exemplo-guia para os estudantes de música popular utilizando a técnica 4-way close (FW), um equivalente  da chamada posição cerrada mas com algumas características próprias: deve conter a tônica, 3a, 5a e 7a do acorde dentro de uma tessitura de no máximo uma 7a. Adicionou-se um baixo e só foram utilizados movimentos fortes. Ex 2:

Pode-se observar o alto número de dissonâncias que esta técnica implica. Através de um procedimento chamado substituição (a 9a substitui a tônica no bloco; a 6a pode substituir a 5a, etc.), o que torna a análise sobrecarregada, razão pela qual algumas indicações podem foram suprimidas.
Observa-se também que não há tratamento independente de vozes, evitando-se apenas paralelismos muito óbvios entre baixo e bloco.
No capítulo X desta obra, se tem a apresentação das dominantes secundárias, o que não abrange apenas as dominantes propriamente ditas, mas, também, todos acordes gerados pelas alterações sugeridas pelas dominantes. Neste contexto se pode encontrar cada dominante secundária precedida de um II grau, formando, assim, uma cadência II-V para cada grau do campo harmônico (com exceção do VII do maior e do VII alterado e diminuto do menor). Para a música popular a cadência II-V é fundamental e o VII grau com sétima menor (chamado de meio-diminuto) é entendido antes como um II na cadência II-V de um acorde menor e, neste contexto, tem função de subdominante. “Esta ambigüidade faz do acorde meio-diminuto com sétima um útil adjunto não-dominante em passagens que modulam rápida e repetitivamente, aonde o compositor deseja evitar temporariamente a estabilização da tonalidade”. [1] O Ex.3 apresenta a valsa Alice in Wonderland, de Fain/Hilliard, que ilustra tal cadência. Ex.3:

Sobre o último acorde, ele será discutido adiante, quando for tratado o Capítulo XIV desta obra de Schoenberg. Seguindo a análise, pode-se sugerir um exemplo-guia com o uso de dominantes secundárias acrescido da técnica de Drops: trata-se de uma maneira de passar de uma posição fechada (4-way) para uma posição aberta: numerando-se as notas do bloco fechado, pode-se “derrubá-las” (to drop) 8a abaixo (Ex : do mi sol si = 1 2 3 4 ; Drop 2 = mi do sol si). Existem as seguintes possibilidades: drop2 (D2), drop3 (D3), drop23 (D23) e drop 24(D24), lembrando sempre que o baixo não integra o bloco. Ex.4:


Além da análise harmônica, o exemplo 4 apresenta a análise das aberturas. A indicação para introdução do compasso com a dominante preferencialmente no 2o. tempo encontra-se no Capítulo IX.
Ainda no Capítulo X, se tem uma explicação dessas dominantes a partir dos modos eclesiásticos de cada grau do campo com suas alterações (escala menor melódica para os graus menores e escala maior para os maiores), com exceção do VII grau. Observa-se que tal “modalização” implica nos tons vizinhos no círculo das 5as e que diversos acordes podem ser incluídos na tonalidade a partir dos campos vizinhos. [2] Um destes acordes é o acorde diminuto com sétima diminuta, gerados nesta leitura pelo VII grau da escala menor harmônica. Pois, se se têm graus menores na escala, se têm três diminutos (nesta instância) no tom, um para cada acorde menor. No próximo exemplo pode ver-se como a cifra de música popular pode ocultar um acorde que, quando escrito de forma tradicional, revela a sua função. Ex. 5: Lamentos, de Pixinguinha.                       
        
Se o acorde de do diminuto fosse escrito literalmente como a cifra indica (do-mib-solb-sibb), ele não teria nenhuma relação com a tonalidade de do maior, ao passo que o enarmônico mais próximo (visto que ao acorde diminuto com 7a. diminuta é simétrico) seria o acorde de re# diminuto, gerado pelo VII grau da escala de mi menor harmônico, tom vizinho de do e, portanto, escrito do-re#-fa#-la, o que faria a análise modificar-se de I-Io-I [3] para I-+II2-I [4] ou I-Vo9doIII-I. No caso do acorde diminuto com 7a. diminuta, encontra-se um consenso no que diz respeito a sua função de dominante, por isso utiliza-se a cifragem dada por Walter Piston (Vo9), que entende este acorde como uma dominante com 9a menor e sem fundamental. Pode-se oferecer um exemplo-guia para a utilização deste acorde. Ex. 6: 

Os uníssonos se formam na junção do bloco com o baixo. Devido ao fato de se terem cinco vozes, resta apenas uma dissonância possível ao acorde diminuto com 7a. diminuta,  além da 7a.: a 13a. menor, que é a própria fundamental da dominante, o que torna a leitura deste acorde cambiável.
A escala menor melódica (Cap.V) se diferencia pelo uso no jazz que a chama de jazz minor [5] , que é na verdade chamada tradicionalmente de escala bachiana. O acorde com * do exemplo 6 é uma dessas derivações jazzísticas. No uso desta escala pelo jazz, não há a correlação que ocorre de maneira mais acentuada nas escalas anteriores, entre grau e função: trata-se de um acorde meio-diminuto com 9a maior, que só ocorre no VI grau da escala menor melódica e, no entanto, tem função de II (subdominante). O mesmo ocorre em relação ao VII grau desta escala, que nesta inversão é chamada de escala alterada, na qual não se considera uma sobreposição de 3as, mas de 4as (sol#-do-fa#-si-mi-la-re), [6] gerando um acorde dominante (enarmonizando do em si#) com 9a aumentada (enarmonizando si em la dobrado #), 13a menor, 9a menor e 11a aumentada, com função de V (dominante), não de lá (neste exemplo), mas de dó# (maior ou menor). [7]
As modulações segundo Schoenberg se ampliam gradualmente no círculo das 5as. Primeiramente temos a modulação ao 1o círculo das 5as, tanto ascendente quanto descendente, no capítulo  IX. Estas pautavam principalmente as tonalidades das seções do choro, que, tradicionalmente, era escrito em forma de rondó simples. Ex: Vou Vivendo, de Pixinguinha, -A= fá maior, B= ré menor e C= sib maior. Apanhei-te Cavaquinho, de Ernesto Nazareth, - A= sol maior, B= mi menor e C= dó maior. Não que houvesse trechos modulatórios entre as partes, mas esta relação de vizinhança pontuava algumas composições. Oferece-se, aqui, um exemplo-guia desta modulação com o uso da abertura de acordes por 4as(4): mesmo que a abertura apresente uma 3a, ela ainda é considerada “quartal” quando apresenta pelo menos dois intervalos de 4as  consecutivos. Ex.7:
           
No capítulo XII se tem a continuação das modulações ao 3o e 4o círculo das 5as. Pela teoria de Schoenberg, ela se baseia na igual possibilidade de uma dominante resolver em um acorde maior ou menor. Estas modulações encontram-se em abundância na música popular. O exemplo 8 modula de fá maior para lá maior através da possibilidade de a dominante de lá menor (III grau de fá) resolver em lá maior, modulando em quatro 5as no círculo. Nota-se também que esta dominante (mi) é precedida pelo II correspondente (si menor). Ex.8:  Waltz for Debby, de Bill Evans.

O exemplo 9 modula de do maior para do menor, modulando três 4as no círculo, o caminho inverso do exemplo 8. Introduz também a abertura de 5as(5), que pode conter uma 2a entre as duas notas mais graves do bloco (desconsiderando o baixo). Ex. 9:

A abertura marcada com um t representa uma tríade, pois a 7a encontra-se no baixo. O primeiro acorde do 5o compasso trata-se de um fá menor com 7a maior com sol no baixo, chamado de sus4 pelo jargão da música popular, ou um sol com 7a, 9a (aqui na versão menor),11a e 13a . Ele pode ser utilizado como um substituto do clássico I6/4 na cadência.
A partir do entrecruzamento dos campos harmônicos de do maior com fa menor, têm-se as chamadas relações com a subdominante menor (Capítulo XIII), na qual a tonalidade se expande em maior-menor. Os acordes inseridos na tonalidade maior são chamados de acordes de empréstimo modal pelos teóricos de música popular. [8] Como síntese de tal expansão pode-se observar a escala maior harmônica [9] (do-re-mi-fa-sol-lab-si-do), que contém as notas das principais cadências de música popular deste Capítulo I7-IVm6 (do maior com 7a maior e fa menor com 6a maior-do mi sol si-fa lab re do), só verificável a partir de uma escrita dos acordes, ao invés da cifra. O ex. 10 oferece uma amostra desta expansão desenvolvida profundamente no romantismo e utilizada largamente nos standards. Ex.10:  All of You , de Cole Porter.

Pode-se observar que a introdução do 1o e 3o acordes só poderia ocorrer neste âmbito da tonalidade expandida. O 6o acorde só pôde ser analisado desta maneira devido a sua grafia, como no caso do exemplo 5. Porém, pelo fato de ele ser uma dominante de um acorde maior, não se pode entendê-lo como VII grau da escala menor harmônica, mas como VII grau da escala maior harmônica  de sib: Gbo (la do mib solb) Bb(sib re fa)=sib do re mib fa solb la, relação pertinente a este capítulo. 
Neste mesmo capítulo do Tratado apresenta-se o acorde de 6a napolitana com sua respectiva cadencia:-II V I ou -II I6/4 V I. Segundo Schoenberg, esta cadência pode ocorrer em qualquer grau do campo harmônico, “quando se busca para cada acorde próprio do escala um acorde de 6a, ainda que seja estranha a escala, que esteja na mesma relação que a 6a napolitana como o acorde de 6a e 4a do I ou V grau”. [10] Observa-se que na música popular esta forma prototípica não é muito freqüente, mas, sim, a sua forma plagal: “A 6a napolitana pode ser usada como uma harmonia subdominante na cadência plagal, seguida por uma tônica harmônica tanto maior quanto menor”. [11] Além disso o acorde napolitano encontra-se em posição fundamental, como já ocorria no romantismo: “No século XIX o acorde napolitano foi empregado com crescente freqüência como uma tríade na posição fundamental”. [12] Ex.: 11 Bye Bye Brasil, de Roberto Menescal/Chico Buarque.

O exemplo 12 apresenta um exercício-guia com a utilização da cadência napolitana e com a introdução da abertura por cluster (CL): qualquer abertura que apresente duas segundas dentro de uma tessitura de 7a é considerada cluster.  Ex.12:  

O capítulo XIV- “Nas Fronteiras da Tonalidade”- apresenta os acordes errantes. São definidos, assim, por sua indefinição tonal, tais como os acordes diminutos com 7a diminuta e aumentados. Os principais errantes introduzidos aqui são os acordes aumentados de 5a e 6a (acorde de 6a germânica), de 3a e 4a (acorde de 6a francesa) e o acorde aumentado de 6a (acorde de 6a italiana), sobre o II e os demais graus da escala. Eles podem ser comparados aos chamados de substitutos de dominantes pela música popular. [13] Porém, se enarmonizados, podem ser interpretados como a própria dominante com 5a e 9a rebaixadas, possibilidade que não pode ser detectada pela cifra. Aqui se têm algumas divergências no que diz respeito à função exercida por tais acordes. Por um lado “o intervalo de 6a aumentada não surge a partir de uma subdominante com fundamental elevada, mas de uma dominante com 5a rebaixada” [14] , por outro lado, “o mais favorável é supor que representa o II (...), porque o II grau, quando vai ao V, faz um movimento de cadência autêntica e,  quando vai ao I, faz um movimento de cadência interrompida”. [15] De qualquer maneira, ambas interpretações consideram re a fundamental (oculta ou não) de tais acordes, no exemplo de do maior, e não um substituto dele (lab dominante). Ex. 13: In a Sentimental Mood, de Duke Ellington.

   
Observa-se que a própria contradição (mi-fab) entre a escrita melódica e a transliteração da cifra do acorde de solb dominante (7o compasso) traduz a duplicidade de interpretação. Se  se escrevesse o acorde com a nota mi, se veria que não se trata de um solb (analisado normalmente como substituto de do dominante pela música popular), mas como o próprio do sem fundamenal, com 3a maior, 7a menor, 5a diminuta e 9a menor acorde de 6a germânica (solb-mi).
O exemplo 14 apresenta o uso sistemático de tais acordes para diversos graus do campo. “Temos ampliada a idéia de dominante com a noção de dominante secundária, temos realizado artificialmente tríades diminutas, acordes de 7a diminuta e acordes similares e, da mesma maneira, procederemos agora introduzindo modificações oportunas e análogas nos outros graus da escala segundo o modelo do II grau (...) -acorde de 6a aumentada.” [16]   Ex.14:
         
Para todos acordes de 6a aumentada, há a possibilidade de enarmonização da 6a em 7a menor, o que faria a fundamental de um acorde se modificar para seu trítono (mi=sib no 1o acorde de 6a), caindo na categoria do substituto de dominante. Pelo alto número de dissonâncias, o que difere o acorde “francês” do “germânico” no contexo da música popular é a presença da fundamental da dominante (em forma de 11+ em relação ao baixo) no primeiro em lugar da 9b no segundo. A possibilidade de outras dissonâncias pode derivar de duas escalas simétricas usadas pelos improvisadores para estes acordes: pode utilizar-se a escala octatonica para o acorde de 6a Ger.: re mib fa fa# sol# la si do, tendo como possibilidade a 9a aumentada (8o acorde Ex.14); e a escala hexafônica para o acorde de 6a Fr: re mi fa# sol# sib do, tendo como possibilidade a 9a  maior (10o  acorde Ex.14).
O último capítulo a ser abordado por esse projeto seria o  capítulo XIX – No 5 -“Algum Outro Esquema Modulatório”. Escolheu-se este capítulo, em vez do XV – “Modulação ao 2o, 5o, 6o e 7o - Círculo das quintas” -, por se tratar de um processo de modulação direto a estes pontos, e não intermediado por outras modulações como no capítulo referido. “Detendo-se em um acorde errante-6a napolitana, aumentado de 5a e 6a (Ger.) etc., se cumpre o primeiro passo da modulação”. [17] Ex.15: Eu Te Amo, de Tom Jobim.

No exemplo acima o acorde de do dominante é transformado em um errante de 6a  aumentada (Ger.), para modular de do para si maior, portanto cinco graus no círculo das 5as. Trata-se de exemplos muito raros, só encontrados na música popular mais recente e que não se encaixam exatamente em modulações, mas, sim, em harmonias modulatórias e instáveis (errantes) que passam por regiões longínquas de um centro tonal. O exemplo 16  mostra um exemplo para tal modulação. Os acordes com* foram escritos da maneira mais simples, pois a análise acarretaria em dobrados sustenidos e tornaria ainda mais complexo compreendê-los. O exercício começa em do maior, modula para si maior e retorna a do. A primeira modulação é feita através da igualdade entre do como I grau e como -II grau napolitano de si. Passando pela região de si maior com muitos acordes errantes (6a Francesa) usados como dominantes secundárias, a modulação de volta é feita através da igualdade entre o acorde de 6a Fr de si (sol si réb mi#- escrito fá) com a própria dominante de dó.Ex.16:

Considerações Finais
Através dos exemplos apresentados, constata-se que a música popular aqui estudada pode ser ligada por um lado a uma prática harmônica do século XIX, no que tange às funções cadenciais que parecem demonstrar serem inerentes ao tonalismo, nas diferentes formas em que ele se apresenta. Por outro lado, no tocante à distribuição de vozes (aberturas), alto número de “tensões” nos processos melódicos e harmônicos liga esta prática à do século XX: condução em bloco, acordes por 4as, 5as, clusters etc. São técnicas que aparecem nos principais compositores e tendências da primeira metade do séc. XX: Debussy, Schoenberg, Bártok etc. Uma das diferenças reside no fato de o improvisador não ver um acorde como um passo momentâneo do entrecruzamento das vozes, mas como uma cristalização duradoura, que é concebida em função de um modo ou escala que gera tal disposição. Este ponto de vista permeia todo o trabalho, que procura às vezes exagerar para tirar dele suas últimas conseqüências. O Tratado de Schoenberg sistematiza um fenômeno que, para ele, tinha esgotado suas possibilidades e, talvez, só por isso pôde ser sistematizado. De uma certa maneira, o Tratado segue um caminho histórico da evolução harmônica. Como a música popular urbana nasce ao final desta evolução, ela já apresenta, em seu princípio, elementos que aparecem ao longo deste percurso, não se encontrando presa àquela ordem. O fato de a música de improvisação ser sistematizada da forma como vem sendo nos últimos anos demonstra um certo desgaste dessa linguagem que, no momento de sua vividez, não se apreendia tão facilmente. Por outro lado, a análise pode propor-se a preservar, em outro nível, tal vividez, quando naquele plano esta não é mais possível.    
Referências Bibliográficas
Para elaboração deste artigo foram consultadas as seguintes obras:
Faria, Nelson. -  A arte da Improvisação. Rio de Janeiro: Lumiar,1991
Goodrick, Mick. - The Advancing Guitarrist. Milwaukee: Hal Leonard Books,1987.
Guest, Ian. -  Arranjo. Rio de Janeiro: Lumiar, 1996.
Korsakov, Rimsky. - Tratado Practico de Armonia, Trad. Jacoboy e Miguel Fisher.Buenos Aires: Ricordi Americana,1976.
Persichetti, Vicent. Armonia del Siglo XX, Trad. Alicia Santos Santos. Madrid: Real Musical, 1985.
Piston, Walter. Harmony. London:Victor Gollanczltd,1982.
Richer, Ramon. Technique Devolopment in Fourths fir Jazz Improvisation. Miami:Studio 224,1976.
Riemann, Hugo. Armonia e Modulacion.2a  ed. Barcelona:Labor,1952.
Schenker, Heinrich. Tratado de Armonia, Trad.Ramon Barce. Madrid: Real Musical,1990.
Schoenberg, Arnold. Theory of Harmony. Berkeley e Los Angeles: University of California Press,1978.
Schoenberg, Arnold. Structural Function of Harmony. London: Williams and Norgate, 1976.
Schoenberg, Arnold. Style and Idea, PartVI-5. London: Faber&Faber,1975.
Schuller, Gunter. Early Jazz. New York: Oxford University,1968.
Schuller, Gunter. The Swing Era. New York:Oxford University,1989.
Zamacois, Joaquín. Tratado de Harmonia, Livro III. Barcelona:Labor,1993.



[1] Piston, Walter. Harmony.London: Victor Gollancz Ltd., 1982.
[2] Há aqui uma pequena inversão da ordem dada pelo Tratado. Schoenberg ensina, primeiro, a modular para os tons vizinhos no círculo das quintas, para depois mostrar que essas modulações podem ser passageiras e entendidas como secundárias. Devido ao fato de este tipo de modulação ser muito raro na música popular, preferiu-se tal inversão.
[3] Guest, Ian. op cit.3a. parte exercício 32b.
[4] Piston, Walter. op cit.Cap.20 Exemplo 20-4.
[5] Goodrick, Mick. The Advancing Guitarrist. Milwaukee: Hal Leornard Books, 1987.
[6] Pode-se notar que, se se começar a sobreposição a partir de ré, obter-se-á o acorde “místico” de Scriabin.
[7] Ver o segundo acorde do 4o compasso do exemplo 9
[8] Gues,Ian., op cit, 3a parte B-3.
[9] Ver Korsakov, Rimsky.Tratado Prático da Armonia, Trad. Jacoboy e Miguel Fisher.Buenos Aires: Ricordi Americana,1976.
[10] Schoenberg, Arnold. Armonia, trad. Ramon Barce. Madrid: Real Musical,1974.
[11] Piston, Walter. op cit.
[12] Idem.
[13] Guest, Ian .op cit,3a parte B-1.
[14] Piston, Walter.. Capítulo27,  Ex.: 27-2.
[15] Schoerberg, Arnold. op cit.
[16] Schoenberg. op cit., Ex.: 186
[17] Schoenberg ,op cit.