Maestro Nenéu Liberalquino
ORIGEM
Segundo Richard Franko Goldman (1910-1980), famoso regente, professor e compositor americano, pode-se dizer que o conceito desse conjunto de instrumentos de sopro denominado de BANDA SINFÔNICA tenha iniciado com a Revolução Francesa (1789-1799) e a organização da Banda da Guarda Nacional Francesa por Bernard Sarrette (1765-1858), a qual se tornaria o núcleo do famoso Conservatório Nacional de Música de Paris.
De acordo com ele, o desenvolvimento das bandas foi influenciado mais profundamente pela Revolução Francesa do que por qualquer outro acontecimento anterior ou posterior, uma vez que a música tinha se tornado o mais relevante e fundamental meio de expressão do povo frente ao estabelecimento de uma nova ordem política e as bandas, por sua vez, passaram a ocupar um papel de incomensurável importância no novo contexto social e político.
Na sua primeira formação em 1789, a Banda da Guarda Nacional Francesa era composta por 45 músicos oriundos de bandas e orquestras existentes e em 1790, foi aumentada para 70 músicos e era mantida pela Prefeitura de Paris.
A partir do seu surgimento, outras bandas foram formadas e todos os principais compositores daquela época, como o italiano Luigi Cherubini (1760-1842), o belga François-Joseph Gossec (1734-1829), e os franceses Charles Simon Catel (1773-1830) e Étienne Méhul (1763-1817, considerado o maior compositor francês de ópera durante a Revolução Francesa), escreveram para essa formação.
Goldman salienta que, do ponto de vista da atividade espontânea, de popularidade e importância, esse período talvez tenha sido o mais excitante e significativo da história da música para banda na Europa.
Um outro marco importante para a consolidação da Banda Sinfônica ou Orquestra de Sopros foi a criação em 1952 da “EASTMAN WIND ENSEMBLE” por um dos mais renomados regentes americanos Frederick Fennell (1914-2004), aluno de Sergei Koussevitzky e colega de classe de Leonard Bernstein, que havia realizado em 05 de fevereiro de 1951, na Eastman School of Music da Universidade de Rochester, no Estado de Nova York (USA), um memorável concerto que iniciou com um “Ricercare” de Adrian Willaert (1480-1562) e terminou com dez composições para esta formação, além da “Sinfonia para Instrumentos de Sopro” de Igor Stravinsky (1882-1971).
“A partir de então, uma nova e maravilhosa literatura musical começou a emergir das salas de concerto, valorizando o potencial técnico e musical dessa formação e houve uma mudança de mentalidade por parte de grande número de regentes, compositores e músicos com relação às concepções sonoras, preparação de concerto, do padrão do som da Banda e ademais, um novo aspecto do universo da banda se abriu à descoberta de timbres, diversidades instrumentais, tratamento orquestral mais refinado, mudanças estruturais na formação do próprio corpo orquestral – e, acima de tudo, um maior aproveitamento das possibilidades artísticas do grupo”, como afirma o maestro Marcelo Jardim no seu artigo "Entendimento Histórico do Desenvolvimento da Música para Sopros".
No Brasil, sabe-se que a Banda do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha (RJ), fundada em 1872, e a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, fundada em 1896, foram as primeiras a se tornarem Bandas Sinfônicas.
Por ser um organismo instrumental que se desenvolveu sobretudo a partir do século XX e principalmente na Europa e nos Estados Unidos, a Banda Sinfônica ainda é confundida no Brasil com as chamadas Bandas Militares ou Bandas de coreto, as quais encontramos em muitos municípios brasileiros.
Não bastasse a total ignorância sobre sua natureza, formação e relevância por grande parte da nossa população - o que seria aceitável quando se trata de pessoas leigas -, há também um desconhecimento inaceitável que habita as mentes de diversos “músicos”, fato este profundamente lamentável.
Não se faz necessário, entretanto, discutirmos sua inconteste importância no cenário musical brasileiro e internacional. Seria suficiente ler o que alguns músicos renomados já disseram a esse respeito, como por exemplo, o trombonista brasileiro Renato Farias, no seu artigo para a Revista Weril nº 126:
“...No final do século 19 e início do século 20, esse numeroso organismo instrumental de sopros e percussão elevava a já tradicional banda de música ao "status" de uma orquestra sinfônica, principalmente no que se referia ao repertório”,
e segue,
“Por outro lado, a excelência de muitos desses organismos trazia a banda à cena principal nas grandes salas de concerto, despertando assim o interesse de muitos compositores para uma nova possibilidade de expressão musical que surgia, trazendo consigo uma flexibilidade que até então a já consolidada orquestra sinfônica não permitia.”
- INSTRUMENTAÇÃO ou FORMAÇÃO INSTRUMENTAL: A Banda Sinfônica possui um riquíssimo efetivo de instrumentos de sopro (madeiras e metais), de cordas (contrabaixo acústico e/ou baixo elétrico, podendo incluir ou não violoncelos), e de percussão (bateria, tímpanos, bumbo, caixa, surdo e acessórios (triângulo, pandeiro, ganzá, etc ). Podemos dividi-la em 03 seções ou naipes:
a) Naipe das Palhetas, na qual são incluídos o flautim e a flauta;
b) Naipe dos Metais e
c) Naipe da Percussão.
Por sua vez, estes três naipes são divididos em 07 grupos diferentes:
- Primeiro Grupo: Instrumentos de embocadura livre e de palheta dupla - flautim, flauta, oboé, corninglês e fagote;
- Segundo Grupo: Família das Clarinetas – instrumentos de madeira com palhetas simples – requinta em mi bemol, clarineta em si bemol, clarineta alto em mi bemol e clarone;
- Terceiro Grupo: Família dos Saxofones – instrumentos de metal com palhetas simples – sax soprano em si bemol, sax alto em mi bemol, sax tenor em si bemol e sax barítono em mi bemol;
- Quarto Grupo: Instrumentos de metal, de bocal, com som claro – trompas, trompetes (e/ou cornetins) e trombones;
- Quinto Grupo: Família dos Saxhornes – instrumentos de metal, de bocal – Bombardinos (eufônios) e tubas;
- Sexto Grupo: Instrumentos de Percussão – tímpanos, caixa, surdo, bombo, bateria, acessórios (pandeiro, triângulo, ganzá, etc), podendo incluir outros instrumentos de percussão de som determinado como vibrafone, xilofone, etc;
- Sétimo Grupo: Instrumentos de corda – Contrabaixo acústico e/ou contrabaixo elétrico, podendo incluir ou não violoncelo.
REPERTÓRIO
Há uma diferença enorme entre o repertório executado por uma Banda Sinfônica e aquele tocado por uma Banda Militar ou de coreto, cujo repertório é composto basicamente de marchas (festivas ou fúnebres), dobrados, fanfarras, hinos, excertos operísticos e música popular brasileira.
Por causa do seu desenvolvimento e da sua importância na cultura musical universal, célebres compositores eruditos escreveram peças originais para Banda Sinfônica - como por exemplo,
- Hector Berlioz (Sinfonia Fúnebre e Triunfal)
- Gustav Holst (1ª e 2ª Suites, Fuga à la Gigue e Hammersmith)
- Felix Mendelsohn-Bartholdi (Abertura para Sopros Op. 24) Richard Wagner (Trauersinfonie)
- Gustav Mahler (Um Mitternarcht)
- Igor Stravinsky (Sinfonia para Sopros)
- Ralph Vaugham-Williams (English Folk Song Suite, Sea Songs, Toccata Marziale e Flourish for Wind Band)
- Sergei Prokofiev (Athletic Festival March)
- Arnold Schoenberg (Tema e Variações Op.43)
- Darius Milhaud (Suite Francesa, Op.248)
- Paul Hindemith (Sinfonia em Bb)
- Ottorino Respighi (Huntingtower Ballad)
Além desses, há muitos compositores eruditos contemporâneos, tais como:
- Alfred Reed (1ª e 2ª Suite para Banda, El Camino Real, A Symphonic Prelude, só para citar algumas de suas peças)
- William Schuman (George Washington Bridge e Chester Overture)
- Vincent Persichetti (Divertimento para Banda, Op.42)
- Samuel Barber (Comando March), Percy Grainger (Lads of Wamphray, Lincolnshire Posy)
- Frank Ticheli (Amazing Grace)
- Steven Reineke (Pilatus: The Mountain of Dragoons) e tantos outros.
Portanto, o repertório de uma Banda Sinfônica se constitui não apenas de peças originais, mas de transcrições de peças originalmente para orquestra sinfônica, MPB, Jazz, Trilha Sonora, Música Latina.
Referências bibliográficas:
- "Entendimento Histórico do Desenvolvimento da Música para Sopros", artigo do maestro Marcelo Jardim.
- "O Universo Instrumental da Banda Sinfônica", artigo do maestro Roberto Farias.
- “Conhecendo a Banda de Música”, livro de Oscar da Silveira Brum.